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QUEM TE LEVOU PRA LO-DEBAR ?

No texto de II Samuel capítulo 9 versículos de 1 a 13, vemos a promessa que o Rei Davi fez a Jônatas, filho de Saul, que se alguma coisa acontecesse com Jônatas, Davi cuidaria de toda a geração do melhor amigo. Davi então pergunta se haveria alguém vivo que fosse da linhagem de Saul para ele abençoar, usar de bondade e fazer o bem a quem quizesse.
Existia um filho de Jônatas chamado Mefibosete. Um jovem de linhagem nobre que vivia isolado e abandonado. Com 5 anos de idade Mefibosete sofreu um grave acidente. Sua babá correndo com ele para fugir dos inimigos do seu pai e avô, caiu com o menino nos braços e Mefibosete quebrou as duas pernas, ficou aleijado e foi morar em Lo-Debar. O nome Lo-Debar significa lugar de não comunicação, um lugar árido, de isolamento e sem vida.
Esta história é muito rica e podemos tirar várias mensagens dela. Porém gostaria de focalizar somente em Mefibosete. Este tipo de pessoa que nasce para ter tudo, mas por causa de um acidente ou uma deficiência escolhe morar em Lo-Debar.
Não importa se você é bonito, feio, gordo magro, ou aleijado. Todos nós temos oportunidades nesta vida. As bênçãos são para todos, mas tudo depende de como vemos as oportunidades. Como príncipes e princesas ou como um cão morto?
Mefibosete não era aleijado apenas fisicamente, ele também tinha uma deficiência na alma, era um co-dependente. (Co-dependencia – Doença que enfatiza a procura de amor em lugares errôneos. Geralmente focaliza a felicidade em pessoas, lugares e coisas. Isso acontece porque os valores das pessoas estão mal estruturados. Provocando uma identidade distorcida)
Isso mostra que não precisamos ser aleijados fisicamente para ir morar em Lo-Debar. O fato de nascermos em famílias co-dependentes e crescermos em uma sociedade cheia de problemas geram pessoas como Mefibosete!
Quando nascemos estamos quase sem problemas emocionais, quase puros, mas dependendo de como crescermos, ou dos adultos que cuidam de nós passamos a ter uma imagem distorcida. Ou seja, se eu fui uma pessoa bem cuidada e meus pais diziam que me amavam e que sempre me dariam apoio. Provavelmente terei mais condições de enfrentar este mundo de uma maneira mais positiva, mas, se por outro lado não recebi afeto segurança e limites - três itens básicos para uma criança - eu provavelmente vou ter alguma razão para morar em Lo-Debar.
Existem 3 fatores muito importante em um desenvolvimento da criança.
1- Afeto – Um abraço, um beijo, um toque, dizer te amo, colocar para dormir, ler um livro, etc.
2- Segurança – Quando os pais saem para trabalhar, ou se ausentarem por algum motivo devem dizer as crianças que vão voltar e que estarão ao lado dela para protegê-las. Muitas crianças têm medo de ir à escola porque no fundo elas temem não ver mais seus pais. Ou que seus pais não voltarão para buscá-las. Por isso é muito importante que os pais digam as crianças que vão voltar.
3- Limite - Uma criança que não tem limites vai ser sempre assunto de outros. Como diz o velho ditado. “Quem não aprende em casa aprende na rua”. O limite precisa ser dado com liberdade de escolha. Muita gente confunde limite com escravizar a criança. Não, não e não! Isso só vai gerar um medo na criança. Um exemplo disso ocorre quando os pais vão escolher uma mochila e deixa a criança escolher a que ela quer e quando a criança começa a gritar porque se frustra por não saber o que quer, os pais batem nelas, às vezes até na frente dos outros, o que vai causar uma vergonha muito grande na criança. Os dois modos estão prejudicando a criança porque até os sete anos de idade uma criança não sabe o que quer. Então os pais precisam direcioná-las.
A orientação é: Os pais devem pegar três tipos de mochilas, ou três roupas no guarda-roupa, ou seja, o que for. Os próprios pais já escolheram antes o que serve para os filhos e depois disto perguntam:
- Qual desses três você quer? Isso é um exemplo de dar limite com liberdade de escolha.
Quando uma criança cresce sem estes três fatores e outros mais que auxiliam no desenvolvimento da criança, ou se uma criança nasce em uma família co-dependente ela cresce como sentimentos como raiva, medo e tristeza (mais detalhes no livro da autora – “Movimento Litúrgico - Um Processo para Restauração” pagina 42-49), ela cresce sentindo-se vítima e quando isso ocorre a auto-estima dela diminui e com a auto-estima baixa a pessoa sente-se ainda mais vítima e passa a ser “um cão morto”.

Voltando a Mefibosete - Fiz esta comparação porque me parece que Mefibosete não teve afeto, segurança e limite uma vez que seu avô Saul e seu pai Jônatas viviam lutando, estavam quase sempre longe nas guerras. Ainda criança foi morar em Lo-Debar, um lugar impróprio para adultos, quanto mais para uma criança indefesa! A linguagem corporal e seu diálogo corporal não estavam totalmente desenvolvidos, uma vez que estas linguagens aparecem mais claras depois dos sete anos de idade.
Talvez como Mefibosete você foi aleijado por sua família, namorado, sogro, amigo. Ou talvez você pensa que alguém te fez mal e sem saber da história direito fica com raiva ou tristeza ou até mesmo medo da vida ou dessa pessoa e não a perdoa. Então você cria um “aleijão” na alma e vai morar em Lo-Debar. Ou então você esteja fazendo isso com seus filhos e não percebe, e depois seus filhos também vão morar em Lo-Debar, este lugar árido, sem condições de plantar e colher. Um lugar escondido de todos, mesmo estando na frente de pessoas você não consegue ver nada.
Além do contexto bíblico a história de Mefibosete nos ensina muito. Ensina-nos que nascemos para ter as bênçãos, as coisas boas, mas por causa do que aconteceu conosco quando criança podemos guardar traumas por uma vida toda e não acreditar que podemos ter as coisas boas na nesta vida.
Veja que o Rei Davi queria abençoar Mefibosete, porém ele tinha dois pontos que o impedia de ser abençoado:
Mefibosete estava isolado - Se achava inválido, como um cão morto. Muitas vezes as oportunidades estão vindo em nossa direção, mas pelo fato da gente pensar que é um cão morto elas não chegam. Por outro lado mesmo quando estamos paralisados pensamos que não merecemos, estamos construindo oportunidades. O fato de ser aleijados fisicamente não quer dizer que é um impedimento para vencer.
Quando analisamos uma pessoa através da Terapia do Movimento ou da Análise do Movimento percebemos que os impedimentos estão muito mais na mente do que no corpo. Existem três fatores que impedem uma pessoa de realizar algo.
a) Intenção - quando temos uma idéia, algo que queremos realizar;
b) Atenção - quando procuramos vários meios para colocar esta idéia em prática. Pesquisamos, procuramos recursos, pessoas etc.
c) Decisão – é a última etapa para a realização dessa idéia. Não adianta ser cheio de intenções mas nunca procurar meios de realiza-las. Também não adianta ter a intenção e atenção e ficar somente no papel. Somente quando entro no último estágio é que realmente estou fazendo algo de concreto.
Geralmente dentro do perfil da análise do movimento vemos que as pessoas têm uma tendência ou outra, mas quando uma pessoa se acha um cão morto, ela perdeu esses princípios em sua vida. Ela fica muito atrás de ter intenção atenção e principalmente decisão.

Fazendo uma análise do movimento de Mefibosete - Ele foi aleijado dos dois pés. Uma pessoa aleijada tem o corpo todo afetado, porque os pés são a base do corpo. Então a postura de Mefibosete deveria ser torta. Uma pessoa aleijada não é capaz de andar rápido como os outros.
Essas pessoas estão sempre achando que os outros estão deixando-os pra trás, quando na realidade são elas que não tem capacidade de andar no mesmo ritmo. O fato de ter os pés “aleijados” afeta também o alinhamento do corpo e com isso vêm dores terríveis. Exigindo mais esforço para realizar o mesmo movimento, alterando a forma pela qual a pessoa se move, modificando sua anatomia.
Isso é suficiente para uma pessoa se sentir um cão morto fisicamente, mas o que determina ser ou não um cão morto e mente.
Somos tão ignorantes quanto usar nosso corpo, vivemos franzindo a testa, movimento que usa 32 músculos enquanto sorrir movimenta apenas 28. Economia de esforço! Quando sorrimos, mesmo que não sentimos nada o cérebro recebe uma mensagem que tudo está bem e libera um neurotransmissor chamado “Endorfina”, é a substância do contentamento.
Uma pessoa aleijada também não acredita que pode se doar e ajudar os outros. Por isso prefere ficar como um cão morto, que não sorri para as pessoas, mas vive franzindo a cara. Talvez Mefibosete pensasse: “Nasci pra ser príncipe, mas não sou. Nasci pra comer com os reis, mas não como. Nasci pra ter tudo, mas estou aqui neste estado de miséria, de solidão, de angústia, medo e desespero, porque alguém me derrubou”.
Mefibosete poderia ter dito: “Alguém me derrubou mas eu vou me levantar. Eu sou filho de um príncipe, neto de um rei. Não vou ficar como um coitadinho. Não quero que ninguém tenha pena de mim. Eu vou sair de Lo-Debar e procurar o Rei Davi que era amigo de meu pai e vou ver o que ele tem pra mim”. Mefibosete poderia ter perdoado a sua babá e lembrar que a deficiência estava muito mais em sua mente do que no seu corpo.

Nós podemos fazer uma escolha hoje - Lembrar que podemos ser abençoados. Que está em nossas mãos, perdoar o passado e perdoar as pessoas que nos aleijaram. Procurar o que podemos fazer pelos outros e por nós mesmo. Sorrir mais! Se doar mais! Ou podemos ficar a vida toda em Lo-Debar! A escolha e nossa.

1 comentários:

Ingrid Boechat disse...

Nossa essa mensagem é linda! Parabéns!
Tocou pofundamente, verdadeiramente somos aleijados mentalmente e deixamos isso influenciar nossa vida espiritual.
Mas creio que Deus É Maior!

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